O presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) disse, na Câmara de São Paulo, que a polêmica sobre a velocidade das marginais deveria também levar em conta a matriz de combustível do transporte.

“As pessoas não morrem apenas por causa dos atropelamentos, milhares delas morrem todos os anos também por problemas causados pela poluição e pelas emissões de carbono” – afirmou Ricardo Guggisberg, em debate sobre os riscos de acidentes nas marginais, no dia 7 de dezembro.

Audiência

Guggisberg foi um dos participantes da audiência pública da Comissão Permanente de Trânsito, Transportes, Atividade Econômica, Turismo, Lazer e Gastronomia da Câmara paulistana.

A Comissão é presidida pelo vereador José Police Neto (PSD).

A maioria dos debatedores da mesa criticou o anúncio do prefeito eleito de São Paulo, João Doria, de voltar a aumentar as velocidades máximas das marginais Tietê e Pinheiros.

As velocidade passarão de 50 km para 60 km (pista local), de 60 km para 70 km (central) e de 70 km para 90km (expressa).

Ana Carolina Nunes, da Cidadeapé, associação que defende os pedestres, citou números de mortes por atropelamentos nos últimos anos na cidade de São Paulo (419 em 2015 e 555 em 2015) para defender a manutenção dos atuais limites.

Poluição

Dados compilados pela ABVE, porém, indicam que o número de mortes decorrentes da poluição atmosférica, causada, entre outros motivos, pelo uso de combustíveis fósseis na matriz energética de transportes, é alarmantemente maior.

Pesquisa conduzida por especialistas da USP e publicada na edição de setembro/dezembro de 2015 da “Revista Brasileira de Estudos da População”, aponta uma estimativa de 10.193 óbitos no Estado de São Paulo diretamente atribuíveis à poluição, em 2015.

O mesmo estudo projetou 18.407 mortes em 2030 no Estado e um total de 246.375 no período 2011-2030, caso os índices atuais de material particulado lançados na atmosfera se mantenham nos níveis atuais.

O estudo é dos pesquisadores Cristina Guimarães Rodrigues (Fipecafi-USP), Evangelina Vormittag (Instituto Saúde e Sustentabilidade), Júlia Affonso Cavalcante (FFLCH-USP) e Paulo Saldiva (Faculdade de Medicina da USP).

Licitação

Também participaram da audiência pública Marina Harkot, da ONG Ciclocidade, e Luiz Carlos Néspoli, da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP).

Ao final da audiência, o vereador José Police Neto apoiou a proposta do presidente da ABVE de ampliar a presença do veículo elétrico em São Paulo.

O vereador disse que ele mesmo, em recente viagem à Europa, espantou-se com a quantidade de veículos elétricos já em circulação em vários países do continente.

Segundo Police Neto, a Comissão de Transportes da Câmara já reuniu um importante acervo de estudos sobre a mudança da matriz de combustível do transporte público paulistano.

Ele convidou Ricardo Guggisberg a participar das discussões com os demais vereadores.

Esses estudos subsidiarão o debate sobre a futura licitação para a renovação da frota de ônibus, que deve ser definida em meados de 2017.

A ABVE defende que a próxima licitação adote medidas para cumprir a meta fixada em 2008, pela própria Prefeitura, de adotar uma matriz energética majoritariamente limpa para o transporte público municipal até 2018.